QUALIDADE DE VIDA

PAS – Pessoas Altamente Sensíveis

A palavra sensibilidade deriva do latim sentire, que significa experimentar sensações. Sentir requer capacidade de reconhecer diferentes vivências sensoriais. Nossas vivências dependem de um processo da percepção por meio do qual um estímulo, interno ou externo, causa alguma reação física ou emocional. Convivemos com uma infinidade de sensações geradas no mundo interno e externo. Os processos sensoriais envolvem basicamente os cinco sentidos: visão, audição, olfato, paladar e tato. Esses sentidos compõem um sistema sensorial muito amplo e complexo, que faz a recepção, a análise e o processamento de estímulos corporais e ambientais. Sabemos que a amplitude da sensibilidade humana é variável. Pessoas altamente sensíveis convivem com um processamento de sensações mais profundo que a maioria, o que aumenta a captação de estímulos e a reação psicológica. Calcula-se que cerca de 15 a 20% da população em geral apresenta sensibilidade mais aguçada dos processos sensoriais.

Ser altamente sensível é uma característica pessoal, um traço de personalidade que gera maior reação diante das impressões positivas e negativas. Pessoas Altamente Sensíveis (PAS), ou que apresentam Sensibilidade ao Processo Sensorial (SPS), respondem fortemente a excitações internas e externas. Muita sensibilidade amplia a vulnerabilidade e atrai algumas vantagens. A fragilidade é ampliada porque PAS sentem o que os outros não sentem, e com tanta intensidade que o mundo que percebem revela uma série de realidades dolorosas. As vantagens derivam de algumas habilidades que indivíduos super sensíveis aprendem a desenvolver, tais como: melhor desenvolvimento emocional, compreensão dos valores da solidão e da reflexão ética, abertura para relacionamentos emocionalmente significativos e interesse no amadurecimento psicológico e espiritual.

Na infância, a alta sensibilidade é vivida com uma mistura de curiosidade e confusão, tendo em vista um mundo que parece fascinante, apesar das contradições e dos sofrimentos que apresenta. A criança altamente sensível é mais imaginativa, introspectiva e curiosa. Desde pequena demonstra interesse na expressão de emoções e sentimentos. Bem cedo descobre que o comportamento dos outros pode ferir – e muito! Conforme cresce, aprende a se proteger das mentiras, ironias, gozações e trapaças. Logo começa a ouvir comentários do tipo: - “você leva tudo muito a sério” ou “você é sensível demais”. Conforme amadurece, aperfeiçoa a linguagem dos sentimentos e das emoções, admite a necessidade de encarar a dimensão sombria da personalidade, inclusive a maldade - própria e alheia.

Por definição, PAS são capazes de perceber pequenos detalhes e sutilezas do ambiente, nos seus aspectos físico, social e psicológico. Na vida adulta adotam um compromisso exagerado com tudo que realizam. A autocrítica tende a ser rigorosa, parece que sentem responsabilidade pela felicidade de todos que se aproximam. Acham difícil dizer não para os outros, mesmo quando não há possibilidade de atender as expectativas. Têm aguda percepção das emoções e dos sentimentos negativos que circulam ao seu redor. Por isso precisam de momentos pontuais de solidão, para refletir e descansar da overdose de estímulos perturbadores.

É penoso interagir num mundo caótico, individualista e desonesto, com tantos altos e baixos. Ser diferente da maioria pode custar sofrimentos emocionais adicionais, principalmente nos relacionamentos amorosos. Personalidades super sensíveis vivem o amor com entrega total. Seus sentimentos são profundos e intensos demais. A tendência é repetir histórias de amor dolorosas. Quem tem esse traço de personalidade reclama da sensibilidade aguçada, pois quase sempre gera bastante ansiedade e exaustão. Felizmente, a visão social da alta sensibilidade está mudando. A disposição é reconhecer a importância de processar as informações com maior atenção e profundidade. Nesse contexto, a sensibilidade é vista como força pessoal ou profissional compatível com modelos de liderança focados na empatia e na colaboração.

Marisa Moura Verdade é Mestra em Educação Ambiental, Doutora em Psicologia, especializada em Psico-Oncologia. Autora do livro Ecologia Mental da Morte. A troca simbólica da alma com a morte. (Editora Casa do Psicólogo & FAPESP). E-mail: mmverdade@gmail.com